Embora o poema que vou apresentar não se relacione directamente com a matemática utiliza termos matemáticos como quantidade (?), problema, soma, multiplicar por dez, que acabam por ser um pretexto para divulgar um poeta/artista do século XX que foi um dos expoentes máximos do surrealismo português. Talvez este poema aguce o apetite aos leitores para outras poesias.
uma certa quantidade
Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade
Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião
Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá
E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar
Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente
como se é uma nuvem um atelier um astro
Mário Cesariny [1923 - 2006]
Uma vez que o nosso poema fala de problema vamos deixar um pequeno desafio (clássico) para resolverem:
O meu avô tinha na sua horta um poço quadrado com uma figueira em cada canto, cuja água acabava durante o verão. Tentou arranjar uma solução para o problema aumentando a capacidade do poço, mas não queria derrubar as figueiras. Queria que ficassem no mesmo lugar. Depois de pensar conseguiu encontrar uma solução. O poço foi alargado. Ficou quadrado. As figueiras ficaram no mesmo lugar.
As perguntas:
Como resolveu o meu avô o problema? Que aconteceu à boca do poço? Que relação passou a existir entre as áreas da boca do poço inicial e do poço final? E entre os volumes dos dois poços?
(Sugestão: a melhor maneira de resolver o problema é fazer um desenho)
Se atentarmos no título do texto e reflectirmos um pouco, faremos, seguramente, uma pergunta: Então os números que existem não são aqueles que estudámos na escola: números inteiros, naturais e decimais, números racionais e irracionais, números relativos, positivos e negativos, números complexos e transcendentes, pares e ímpares, cardinais e ordinais e muitos outros?
Mas, além destes que são conhecidos e estudados normalmente nas escolas, existe toda uma panóplia de números, entre os quais parece haver relações de parentesco, como números primos, primos entre si, gémeos, primos de Mersenne, primos de Fermat, amigos ou números com formas geométricas, como os números quadrados, triangulares, piramidais, tetraédricos, pentagonais, hexagonais, oblongos, …
De todos estes tipos de números seleccionámos alguns que vamos tentar apresentar, não só pela curiosidade, mas também pela sua importância matemática.
Comecemos pelos números perfeitos. É claro que o nome não tem a ver com a forma como são traçados de forma mais ou menos perfeita, mas com os seus divisores.
O número 6 é perfeito porque é igual à soma dos seus divisores próprios:
1 + 2 + 3 = 6
Não existem muitos. Até 10 000 conhecem-se, além do 6, mais três:
28 = 1 + 2 + 4 + 7 + 14
o 496 e o 8128, que já eram conhecidos na Antiga Grécia.
Um pequeno desafio
Determinar os divisores próprios destes dois últimos números e verificar se são efectivamente números perfeitos.
Se há números perfeitos terá que haver imperfeitos. Não são chamados assim, mas há de dois tipos: os números deficientes e os números abundantes.
Quando a soma dos seus divisores próprios é menor que o número temos um número deficiente.
- divisores próprios de 10 – 1, 2, 5 cuja soma é:
1 + 2 + 5 = 8 < 10
O número 10 é um número deficiente.
Um pequeno desafio
Descobrir todos os números deficientes menores que 100.
Pelo contrário, quando a soma dos seus divisores próprios é maior que o número então temos um número abundante.
- divisores próprios de 48 – 1, 2, 3, 4, 6, 8, 12, 16, 24 cuja soma é:
1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 8 + 12 + 16 + 24 = 76 > 48
O número 48 é um número abundante.
Mais um desafio
Descobrir o menor e o maior número abundante de dois algarismos.
Quando eu era estudante do ensino secundário, há já alguns anos, a quantidade de informação que circulava era muito menor e a comunicação fazia-se muito mais lentamente, quase a passo de caracol, contrariamente ao que hoje acontece. Talvez fosse essa situação que nos motivava, que nos despertava a curiosidade para os desafios matemáticos levando-nos a encontrar problemas, a fazer investigações e aceitar desafios que tentávamos resolver SOZINHOS e que hoje aparecem, muitas vezes, como se fossem novidades. No entanto, para mim, são já clássicos. Um deles diz respeito a uma situação que se traduz no seguinte:
Num bairro há três casas alinhadas que podemos identificar como A, B e C e têm de ser equipadas com água, energia e gás. Por uma questão de segurança, as tubagens que os transportam não se podem cruzar. Será possível fazê-lo? Em caso afirmativo, haverá mais de uma solução? Que outro tipo ou tipos de problemas têm relação com este?
Para que possamos dar uma ajuda na resolução do problema, que hoje se enquadra numa nova área da Matemática se chama teoria dos grafos, apresentamos um esquema das casas e as instalações donde vão sair os fornecimentos da água, gás e energia:
A | B | C |
Água | Gás | Energia |
Numa sociedade em permanente mudança, numa sociedade da informação/comunicação que se transmite a ritmos alucinantes é importante que os profissionais e cidadãos em geral estejam preparados para seleccionar a informação necessária e fundamental para responder aos desafios do dia a dia. Para isso devem ter a preparação necessária para tomar decisões, as melhores decisões. Devem ter a informação necessária, ter as competências, conhecer os conceitos e os processos para resolver os problemas que hão-de dar resposta às novas solicitações.
O desafio que propomos é dar resposta às perguntas da primeira parte e justificá-las.
O Vendedor de Jóias
- Se vender as jóias por 100 dinares pagarei 20 dinares pela hospedagem, mas se as vender por 200 dinares pagarei 35 dinares.
Passados dias, depois de vender as jóias, não por 100 nem por 200 mas por 140 dinares, estava a tentar chegar a acordo com o hospedeiro sobre o pagamento do alojamento sobre o qual não conseguiam acertar a quantia a pagar.
O joalheiro, como era normal, tentava pagar apenas 24,5 dinares argumentando:
- Se 200 dinares de jóias correspondem a 35 dinares de hospedagem, então 140 dinares correspondem a um valor proporcional (que nós representaremos por X).
Feitas as contas vem:
X = 24,5 dinares
O hospedeiro, pelo contrário, tentava receber uma quantia maior e argumentava que a dívida era de 28 dinares:
- Se 100 dinares de jóias correspondem a 20 dinares de hospedagem, então 140 dinares correspondem a um valor proporcional (que nós representaremos por X).
X = 20 x 140/100
X = 28 dinares
Perguntamos nós:
Quem tem razão? O joalheiro ou o hospedeiro? Ou nenhum?
(Adaptado de Malba Tahan, O Homem Que Sabia Contar)
O número sete (7) é considerado sagrado para algumas religiões e aparece também ligado a alguns números com os quais aparentemente não parece ter qualquer ligação. Que relação existe entre o 7 e o número 128? Podemos dar algumas voltas, mas temos muitas dificuldades em descortinar a relação. No entanto, a relação existe e é conhecida há milhares de anos:
2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 = 128 ( 7 factores iguais a 2, que em escrita actual se escreve na forma 27 ).
Por outro lado 128 = 7 + 21 + 2 + 98, que por sua vez se relacionam com o número 7 da seguinte forma:
7 + 7 = 14
21 - 7 = 14
2 x 7 = 14
98 : 7 = 14
Como se verifica, relacionando o número 7 com cada um dos números indicados através de cada uma das operações aritméticas adição, subtracção, multiplicação e divisão obtemos sempre o mesmo resultado 14. Mas não nos podemos esquecer que partimos do número 128 que é uma potência de base 2 e expoente 7.
O número sete (7) é de facto notável. É mesmo um número mágico.
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